Um dia e a cada dia...

Sorvo o ar que corre por dentro de mim e me preenche, ocupando cada espaço, me dando alento e vida. O dia começou nublado, eu acordei de um sonho onde te via ao meu lado, sorridente e doce a me olhar. Tuas mãos eu peguei, levei-as ao peito, uma leve carícia senti e o apertão no bico, a me recordar um tempo de pertencimento e servidão.

No devaneio me solto. Percorro antigos caminhos de minha masmorra, imaginando e lembrando, sonhando com as correntes e celas escuras, ouvindo os estalos dos chicotes, os gemidos, os sussurros. As recordações se entrecruzam com vivências menos felizes, com situações incontornáveis, destemperos, discussões, desesperadas in-soluções que nos apontam para novos horizontes. Serão mesmo novos? Em que serão diferentes? Como me sentirei neles? Uma cadela sem seu Dono, o que faz nessa hora? Seguirá cabisbaixa, olhos tristes, ou erguerá as orelhas, confiante, farejando no vento uma possibilidade que seja?

Cada cadela tem seu jeito... Ficarei quieta, focinho apoiada nas patas, deitada na soleira da porta, de olhar atento farejando o vento, e reconhecerei Aquele que me cuidará e a quem pertencerei.

Por enquanto, é só o vazio...