Ser em fim

Entro no buraco da agulha e saio pelo mundo de cabeça para baixo.
Pendurada, sangue na cabeça, os pensamentos não têm como correr, saem pelos ouvidos, nariz, boca.
Meus olhos esbugalhados são conchas encharcadas, cada gota que escorre era mel, ficou gelo.
Fito a linha do horizonte, os prédios para baixo, o céu para cima, a ausência de gravidade no estômago querendo subir pelo esôfago e desagüar no céu da boca.
Intumescida, explodo.
Para um lado vai minha dor, para outro minha angústia, para cima meu rancor, para baixo minha sina.
Rodopio uivando, pele saindo, descabelando louca.
Uretra vaza.
Do ânus, nem sinal, só traços de espasmos em espumas evanescentes.
Vulva quente, vulva fria, vulva pulsa, expulsa o demo.
Afinal repouso, pouso no chão e oro...
Depois, me entrego e choro.