Estranhos se encontram...

Quem éramos, um para o outro, senão estranhos? Só os estranhos se encontram. Paramos e nos olhamos, sem precisar dar boa noite. Ouvimos o silêncio e recenseamos a solidão. Era a vida e éramos nós. Estávamos sós, só podíamos ser um para o outro - e nos abraçamos em silêncio. O senhor me ofereceu sua mão cálida, generosa, eu a peguei, deixei que me guiasse. Em silêncio, de mãos dadas, escolhemos o pequeno atalho que nos levaria ao destino que não sabíamos onde, se entre árvores altas, praias e ilhas, mares majestosos e tempestades e chuvas. Seguimos as pegadas na lava...
Aquela era uma noite que não coubera na Eternidade - dela fôra separada só para nós. Era a noite do lado de fora. Vimos o mundo quando nos encontramos, o vento coloriu a noite com flocos rubros, como se fôra gravura animada, porque não o habitávamos. Habitávamos nosso encantamento.
Não seria necessária a lua, dispensava-se a luz, supérfluas seriam as estrelas. Vivemos aquela noite como se fôra ilha esquecida nas águas do Tempo, flutuante em oceano sem margens, com suas pedras incomuns e areias mornas, sol e nuvens ancoradas num céu próximo. Foi nossa noite. Nesse encantamento permanecemos, dele nos alimentamos, e é o que tem nos dado coragem e alentos. Há um continente a ser conquistado, senhor, e mais, um universo inteiro...